Vida, obras, pinturas e prêmios de Clarice Lispector
Clarice Lispector: Uma mulher multifuncional
Clarice Lispector foi uma figura única da literatura brasileira, cujas obras foram profundamente influenciadas por sua vida complexa, cheia de altos e baixos. A autora escreveu romances, contos, crônicas, poemas, cartas, peças de teatro e literatura infantil; também atuou como jornalista, tradutora e pintora, além de ter cursado Direito. Com tantos talentos tornou-se uma mulher multifuncional e admirada por muitos.
Vida da autora
Clarice Lispector nasceu no pequeno vilarejo ucraniano de Chechelnyk, em 10 de dezembro de 1920. Aos dois anos de idade, sua família mudou-se para o Brasil, tornando-se cidadã brasileira em 1932. Ela se formou em Direito em 1943, e casou-se com o diplomata Maury Gurgel Valente em 1945, relacionamento do qual tiveram duas filhas.
Nos seus anos de formação, Clarice começou a escrever contos e poesias, época em que publicou o seu primeiro romance "Perto do coração selvagem". Foi na década de 60 que ela começou a alcançar seu máximo potencial literário, publicando suas obras mais conhecidas, como "A Hora da Estrela" e "A paixão segundo G. H."
A obra da autora tem seu foco nas questões mais profundas da vida humana. Seu estilo foi descrito como experimentação literária, misturando as formas mais tradicionais de literatura com elementos filosóficos e psicanalíticos. Ela foi pioneira na luta feminista, utilizando a escrita para conseguir se expressar contra o machismo da época.
Lispector passou os últimos anos de sua vida escrevendo, viajando e ensinando em universidades e escolas dos Estados Unidos. Ela faleceu em 1977, deixando um vasto legado de obras literárias e filosóficas que ultrapassaram gerações.
Principais obras
A obra mais conhecida de Clarice Lispector é seu romance "A Hora da Estrela", publicado em 1977. O romance segue a vida de Macabéa, uma jovem imigrante brasileira e a jornada de auto-descoberta que ela faz enquanto tenta sobreviver no caótico Rio de Janeiro dos anos 70. A obra tem sido amplamente elogiada pelos críticos por sua abordagem ousada e poética da rotina da vida urbana.
Vale também destacar a coletânea de contos "Laços de família", publicada em 1960. Essa publicação de Lispector enquadra-se na terceira geração do modernismo brasileiro. O livro contém 13 contos, nos quais abordam histórias de relacionamentos familiares com um aprofundamento psicológico. Tal obra levou a autora a conquistar o Prêmio Jabuti em 1961, isso demonstra a relevância de sua escrita.
Outra obra importante de Clarice é seu conto "A paixão segundo G.H.", publicado em 1964. O conto é uma história sobre uma mulher que, depois de ter um estranho encontro com um caranguejo, se sente compelida a explorar as profundezas de sua própria consciência. O conto segue a personagem ao longo de sua jornada introspectiva, e até hoje continua a servir como inspiração para artistas e pensadores.
"Perto do coração selvagem" (1943) - primeiro livro que lhe rendeu reconhecimento nacional e internacional.
"Água viva" (1973) - livro poético e experimental que mistura prosa e poesia.
"Um sopro de vida" (1978) - seu último livro, considerado um dos mais introspectivos, no qual a autora reflete sobre a vida e a morte.
Além dessas obras, a escritora também publicou ensaios, poesias e coletâneas de contos e crônicas, como "A legião estrangeira" (1964), "Felicidade clandestina" (1971), "Para não esquecer" (1978), entre outras.
Pinturas
Clarice pintou 22 quadros (19 sobre madeira e 3 sobre tela). Seus quadros localizam-se, atualmente, nos Arquivos Literários do Instituto Moreira Sales e no Acervo da Fundação Casa de Rui Barbosa. As pinturas também estão no livro "Clarice Lispector - Pinturas (Rocco)" de Carlos Mendes de Souza.
Seus quadros tinham um aspecto rudimentar. A escritora considerava a pintura como uma forma de relaxamento para auxiliá-la na escrita.
Abaixo estão descritos os nomes de algumas de suas pinturas:
• Interior de gruta (1960);
• Escuridão e luz: centro da vida (1975);
• Cérebro adormecido (1975);
• Explosão (1975);
• Luta sangrenta pela paz (1975);
• Pássaro da liberdade (1975);
• O sol da meia-noite (1975).
Jornalista e tradutora
Clarice Lipector foi cronista do Jornal do Brasil, foi colunista do Correio da Manhã, realizou entrevistas para a revista Manchete e trabalhou nos jornais A Noite e Jornal da Noite. Na coletânea "A descoberta do mundo" estão reunidas 466 crônicas que a autora escreveu para o Jornal do Brasil entre 1967 e 1973.
Lispector traduziu cerca de 35 livros de diferentes gêneros, além de contos, peças e artigos. A maior parte das traduções foram do inglês, do francês e do espanhol para o português. Esta incrível mulher falava cerca de sete idiomas: português, inglês, francês e espanhol, fluentemente; hebraico e iídiche, com alguma fluência; e russo, com pouca fluência levada da infância.
Prêmios
Clarice Lispectos ganhou vários prêmios no decorrer da sua vida. Os principais foram:
• Prêmio Graça Aranha (1943);
• Prêmio Carmem Dolores Barbosa (1961);
• Prêmio Jabuti (1961) e (1978);
• Ordem do Mérito Cultural (2011) memorial.
Legado
O legado de Clarice Lispector permanece como uma das mais importantes escritoras da literatura brasileira. Seu trabalho admirável continua a reverberar na vida dos seus leitores, que inspirados pela autora, procuram explorar suas próprias mentes.
Hoje, Clarice é um ícone da cultura brasileira, lembrada e reverenciada por sua coragem de pensar e criar fora da caixa e explorar os limites da humanidade. Seus colaboradores e leitores seguem em frente, influenciados por sua obra criativa, provando que a sublime e complexa personalidade de Lispector será lembrada por muitas gerações.
Um trecho do livro "Perto do coração selvagem" - primeiro livro que Clarice escreveu.
Descobri em cima da chuva um milagre — pensava Joana — um milagre partido em estrelas grossas, sérias e brilhantes, como um aviso parado: como um farol. O que tentam dizer? Nelas pressinto o segredo, esse brilho é o mistério impassível que ouço fluir dentro de mim, chorar em notas largas, desesperadas e românticas. Meu Deus, pelo menos comunicai-me com elas, fazei realidade meu desejo de beijá-las. De sentir nos lábios a sua luz, senti-la fulgurar dentro do corpo, deixando-o faiscante e transparente, fresco e úmido como os minutos que antecedem a madrugada. Por que surgem em mim essas sedes estranhas? A chuva e as estrelas, essa mistura fria e densa me acordou, abriu as portas de meu bosque verde e sombrio, desse bosque com cheiro de abismo onde corre água. E uniu-o à noite. Aqui, junto à janela, o ar é mais calmo. Estrelas, estrelas, rezo. A palavra estala entre meus dentes em estilhaços frágeis. Porque não vem a chuva dentro de mim, eu quero ser estrela. Purificai-me um pouco e terei a massa desses seres que se guardam atrás da chuva. Nesse momento minha inspiração dói em todo o meu corpo. Mais um instante e ela precisará ser mais do que uma inspiração. E em vez dessa felicidade asfixiante, como um excesso de ar, sentirei nítida a impotência de ter mais do que uma inspiração, de ultrapassá-la, de possuir a própria coisa — e ser realmente uma estrela.
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